Antes de chegar ao famoso pombal, construído especialmente para que o presidente Mário Celso Petraglia possa assistir aos jogos bem longe e isolado do povão, ele foi detido por seguranças e policiais militares. Mas o recado foi entendido por todo o estádio, que ecoou os protestos da galera contra o dirigente.
O protagonista do episódio é Marcelo Lopes, o Rato, fundador da torcida Ultras do Atlético, eterno apaixonado pelo Furacão. Mas o que pretendia aquele sujeito de 1,64m ao enfrentar grades e soldados para encarar o imperador atleticano em seu trono? É o que Rato explica, em entrevista exclusiva para Paraná-Online.
Paraná-Online - O que te motivou a pular o fosso e encarar o Petraglia?
Rato - A torcida do Atlético anda tão cabisbaixa e indignada que só xingar não está resolvendo. Naquele momento, contra o Vasco, eu me senti na obrigação de fazer alguma coisa, para ele ver que a camisa do Atlético é mais forte que ele. Eu queria pedir para ele sair do clube, antes que tenha de fugir.
Paraná-Online- Por que você acha que as coisas chegaram a essa situação, em que a torcida nem sabe mais como reagir?
Rato - Eu não consigo entender como uma pessoa vê essa situação e gosta. Parece que ele gosta que a gente o ofenda. Ele que deixe espaço, até mesmo para outros que começaram com ele. Sabemos que ele não construiu a Baixada sozinho. Mas está sozinho agora. Quem está em volta são empregados e umas poucas pessoas como o Mauro Holzmann (diretor de marketing) e o Fleury (João Augusto, presidente do conselho gestor). Mas eles não são culpados. A culpa é da prepotência do Petraglia. Ele deveria diminuir um pouco a intensidade de sua arrogância e colocar o amor ao Atlético na frente.
Paraná-Online - Você acha que a saída do Petraglia é essencial?
Rato - A saída dele talvez não fosse o diferencial. O que tinha que mudar são as atitudes e a maneira de tratar as pessoas. Com ele não tem diálogo. Somos agradecidos pelo que ele fez. Não podemos ser mesquinhos, como ele. Sabemos o apoio que ele deu ao Atlético, mas não fez nada sozinho. Nós gostaríamos que essas pessoas voltassem para o Atlético, ajudar a tirar o clube de onde está. Porque se eu levar o Dinei, o Claiton e o Edno lá na vila para jogar bola, o pessoal vai me tirar sarro no barzinho depois.
Paraná-Online - Essa má fase do time em campo só potencializou uma insatisfação que vem de longe, devido ao preço dos ingressos, à proibição do material das torcidas... Isso torna essa crise ainda mais grave?
Rato - Com certeza. A torcida do Atlético é povão. Ele pegou o clube por ser um time de massa, que tem a maior torcida do Estado. Me desculpem os paranistas, mas duvido que no Paraná ele investiria tudo o que investiu, para tomar o clube de assalto. No momento está assim. Ninguém manda, a não ser ele. Ele quis diminuir a força da torcida, de forma inexplicável. Quem atrai a torcida é a festa das organizadas. Quando tinha bandeiras, faixas, era maravilhoso. Mas aparentemente ele acha que a gente é inimigo.
Paraná-Online - Que tipo de mobilização as torcidas estão organizando?
Rato - Eu acho que protesto é uma coisa meio falsa. Teve um tempos atrás, o Fica Petraglia, depois Fora Petraglia. A Ultras não tomou partido disso. A pessoa tem que ter a consciência de que está errada e admitir o erro. Eu não sou a favor da violência. Meu porte físico nem me permite ser dessa maneira. Mas eu sou uma pessoa muito centrada naquilo que quero. Para defender Deus, minha família e o Atlético, pode contar com meu sangue, minha carne. Nossa idéia é que o clube tome o rumo da grandeza de sua torcida. Se ele pensa que é dono, está enganado. O dono do Atlético é a torcida.
Paraná-Online - Qual você acha que será o resultado dessa tua atitude?
Rato - Ele viu que o Atlético tem oposição. Pode ser só o Marcelo Rato, mas junto comigo vai vir mais gente. O que eu fiz foi para sensibilizar todo mundo, para reerguer a auto-estima da torcida do Atlético, que está muito baixa. A torcida tem que acreditar nela, voltar a ir nos jogos e cobrar. Sem violência, mas firme. Vamos colocar na cabeça dele que o Atlético é do povo.